de sua parte agora
poderia ruir-se o mundo
em estilhaços
pequenos absurdos
tintura descamada ou
pele de que se ausentasse
o tom corado por
um lycra orgânico albino;
não interessava-lhe
mais o gesto de sondar
os olhares e as
mentes, as gentilezas
miméticas, o dar de mãos
ou ombros,
a secura na garganta ou
a vazão de um punhado
de coisas gentis
por ditas.
só
esperava chegar o
ônibus, aguardava paradas,
cumpria um desejo
secreto de faltar
ao trabalho, havia –
tantas outras vezes antes –
abraçado a inércia como
a um irmão e,
agora algum aplauso,
tornava ao queixume,
esperava condolência
desejava o abraço de
um banco de parque
enquanto
desconecto
se doava ao encanto
ínfimo e sísmico
dos fones de ouvido.
parava
à própria sorte
mascando um começo
de término, um retrocesso
à infância, uma
viagem entre paletas,
e fosse como fosse o ônibus
não chegava
o som das rodas velhas não
chegavao rugido do motor –
tetânico, até – não
entrava pela rua em que
como os favores paralisados
de um eunuco
detinha-se sua visão
e o jornal de ontem
um desarranjo vascular
em perceber a
data
um despiste de olhos
para quando
estivesse no maldito ônibus
que
não chegava
parecia fazer coçar
mais as mãos
os dedos, o punho
(como a pulseira
plástica de um relógio)
e se algum bom dia
viesse, rasante, sorrateiro entre
as deformações das outras
falas matinais
ele seria ignorado.
não há ônibus,
não há contra-espera,
não há espaço para
a nota de um mísero
número de telefone
não há, visível, nenhum
mendigo catastrofista
com placa anunciando o fim.
do renato mazzini
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
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