terça-feira, 23 de junho de 2009

Rói

Rói qualquer possibilidade de sono
essa minimalíssima música
de cupins esboroando
tacos sob a cama

imagino a rede de canais
que a perquirição predatória
possa ter riscado
pelo madeirame apodrecido

se aguço o ouvido
capto súbito
o mundo dos vermes




Carlito Azevedo

terça-feira, 9 de junho de 2009

"É difícil observar no Brasil uma situação onde uma pessoa capaz de realizar bem alguma tarefa - tocar bem um instrumento, dançar, cantar, nadar, etc. - não demonstre um falso recato ao ser solicitada a fazer uma demonstração de suas qualidades. Há duas categorias chulas para tais atitudes compulsivas no Brasil, denominadas: "fazer chiqué de polaca", ou seja, proceder como uma prostituta polonesa fingindo ser uma virgem, ou, mais claramente, fazer "cu doce", expressão com o mesmo sentido que significa fazer-se difícil. O simbolismo sexual das duas expressões certamente mereceria maior atenção, mas pode-se sugerir que a equação subjacente ao simbolismo é aquela que denota uma visão negativa do feminino, pois só as mulheres necessariamente devem negar as coisas boas que podem realizar. Por outro lado, quem sempre se dispõe a fazer o que sabe na primeira solicitação é sempre classificado como "apresentado" e "oferecido".



nota de rodapé em Ensaios de Antropologia Estrutural - O carnaval como um Rito de Passagem, de Roberto da Matta.