Ele tinha o costume de gesticular seu pensamento,
de sorte que estar parado era já ter compreendido
ou não ter dúvidas. Foi um abalo enorme quando se
deu o que conto,
porque ultimamente ocupava a compreensão em tomar
os remédios,
não comer sal, medir cor e volume de sua urina difícil.
Sem que ninguém suspeitasse ficou em pé na sala
e começou a cantar, pondo e tirando da jarra o galhinho
de flor,
a voz como antes, firme, alta, grossa, anterior
a qualquer debilidade do seu corpo.
Um susto às avessas do susto foi o nosso,
porque a barriga dele continuava altíssima e alagava
a mina
rompida de sua perna. Fugimos como nas guerras.
Um de nós foi chorar na privada, outro no quintal,
eu inventei uma barata pra matar com um chinelo.
A alegria dele desertava, quase, do que fosse
uma alegria humana e não estávamos à altura de
entendê-la.
Sofrer era muito mais fácil.
adélia prado
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
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3 comentários:
Adélia, sempre ela! E meu trem de ferro - coisa mecânica - me vara por dentro e se transforma em sentimento.
Abraços
soco no estômago.
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