quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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Tem um quadro do Edward Hopper que mostra um homem sozinho em um quarto, sentado em uma cama, imerso num pensamento e olhando através do chão. Ao seu lado está um livro aberto. Tive a impressão de que o cara foi obrigado a soltá-lo rapidamente pra sentir-se de fato solitário e dar credibilidade ao pensamento que o tomou. Eu o procurei umas três vezes no dia em que o conheci e só ontem notei que logo atrás dele, nítida e, na mesma cama, está uma mulher deitada, nua. Eles estão reciprocamente de costas. Não por que não se suportam ou por algum desentendimento verbal, mas pela necessidade que sentem de estar em silêncio. Ambos o sentem, por isso, a presença física do outro não incomoda a nenhum.
Antes eu via o cara e o pensava solitário, apático. Depois de perceber a presença/ausência da mulher, senti que sua solidão havia duplicado e, ao mostrar-se necessária, chegou perto de ganhar vida. Aquela imagem é surda-muda e se chama "Excursão filosófica".

2 comentários:

Guiga disse...

Gosto do Hopper, é uma cara que teve coragem de retomar o figurativo na pintura. Infelizmente dele só conheço ou me lembro agora do "bad boy", o garoto que rouba a prostituta em seu quarto.

Guiga disse...

ps. havia me esquecido de mencionar o filme nacional "Nna" no qual um dos personagens tem o "Bad Boy" na parede.